O periódico natalense "O Jornal de Hoje" dedicou uma página da
edição de 21 de maio de 2012 (caderno "Cidade", página 9) à
Secretaria de Educação a Distância da UFRN. Na reportagem, o jornal aborda
algumas características do ensino a distância, a estrutura da SEDIS/UFRN e como
o aluno tem acesso aos cursos da modalidade. A Secretária de Educação a
Distância da UFRN, Maria Carmem Freire Diógenes Rego, e o professor José Leão
Martins Júnior, ex-aluno do curso de Licenciatura em Química a Distância,
também deram seus depoimentos. Veja, na íntegra, o texto publicado:
Na educação, a distância que aproxima
Data: 21 maio 2012 - Hora: 18:07 - Por: Portal JH
Se o aluno não pode ir à sala de aula, a sala de aula vai até ao aluno.
Eis o cerne da proposta da educação à distância: traçar novos caminhos para
alcançar os estudantes que residem nas regiões mais remotas do Rio Grande do
Norte.
Criada em 2003, a Secretaria de Educação à Distância da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) tem conseguido irromper as barreiras físicas que
impediriam discentes de alcançar não apenas uma graduação, mas também fazer uma
pós, especialização, mestrado e cursos de aperfeiçoamento. Tudo no conforto do
lar, basta que ele tenha um computador com acesso à internet.
A maior parte do curso se desenvolve dentro de Ambientes Virtuais de
Aprendizagem – os chamados AVAs – onde é possível dialogar com os professores e
colegas por meio de fóruns e chats. “O ambiente virtual é como uma sala de aula
aberta 24 horas. O professor posta as atividades semanalmente, sejam
questionamentos ou leituras”, define Carmem Freire, secretária de educação à
distância da UFRN e coordenadora da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no RN.
São oferecidos seis cursos de graduação, sendo cinco de licenciatura em
Matemática, Física, Química, Biologia e Geografia e um Bacharelado em
Administração Pública. Em 2012, serão incluídos quatro novos cursos de licenciatura:
Pedagogia, Letras e Educação Física. Em nível de pós-graduação, são ofertados
cursos de especialização em Gestão Pública, Gestão Pública Municipal, Mídias em
Educação, Ensinos de Matemática, Ciências, Filosofia e Sociologia, e Mestrado
Profissionalizante em Ensino de Matemática. No âmbito de extensão, há cursos de
aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola, Relação Étnico-Racial,
Produção de Material Didático e DST: Aids e Hepatites Virais.
Entretanto, nem tudo é feito de casa. O estudante dos cursos à distância
é um aluno como qualquer outro da UFRN, com os mesmos direitos e deveres. Para
entrar num dos cursos, ele presta o mesmo vestibular, com cinco questões de
cada área e uma redação, elaboradas pela Comissão Permanente do Vestibular (Comperve).
Ele também terá de enfrentar concorrência: no curso de bacharelado em
Administração Pública, por exemplo, já se chegou a ter 11 candidatos disputando
a mesma vaga.
Após aprovação, fica-se vinculado a um Polo de Apoio Presencial, onde o aluno
tem um ambiente físico apropriado para a realização de atividades acadêmicas e
o acompanhamento de um tutor presencial, com horário disponível para tirar
dúvidas e atender os estudantes.
Cada polo é dotado de laboratório de informática, biblioteca, secretaria
acadêmica e laboratórios específicos das áreas. Lá, o discente executa tarefas
presenciais e realiza as provas – são duas por semestre e por disciplina,
sempre aos domingos. Nos cursos de Física, Química e Biologia, o estudante
participa de aulas experimentais nos laboratórios específicos.
Outra vantagem para o estudante é que ele recebe material didático
impresso, em livros e fascículos, e também digital, com videoaulas e material
multimídia para uso no ambiente web.
A UFRN tem um total de 23 polos, distribuídos no Rio Grande do Norte (14
polos), Pernambuco (5 polos), Paraíba e Alagoas (1 polo). No território
potiguar, os espaços ficam nas cidades de Mossoró, Grossos, Caraúbas, Extremoz,
Natal, Parnamirim, Nova Cruz, Martins, Marcelino Vieira, Luís Gomes, Lajes,
Caicó, Macau e Martins.
Atualmente, a UFRN tem mais de três mil alunos matriculados. Para a
secretária de educação à distância da UFRN, a missão de transplantar o
anacrônico sistema de quadro e giz e incluir novas tecnologias representam um
avanço na educação: “Com isso, cumprimos o papel de introduzir e disseminar
novas tecnologias de informação e comunicação para todo o sistema de ensino”,
observa Carmem Freire, secretária de educação à distância da UFRN e
coordenadora da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no RN.
Mesmo com toda a estrutura e metodologia que garante a qualidade dos
cursos, a educação à distância ainda é alvo de muito preconceito quanto ao
nível de apreensão do conteúdo e formação dos profissionais. “Ainda existe
muito preconceito. Quando iniciamos, há nove anos, era muito mais forte. Hoje
os próprios professores percebem que o nível dos alunos não é diferente. E os
alunos que entram achando que o curso é mais fácil se deparam com as mesmas
dificuldades”, conta Carmem Freire.
De fato, ainda que o acesso aos cursos seja facilitado, o estudante terá
que ter o dobro de disciplina e força de vontade, já que não terá a tradicional
presença física do docente cobrando resultados. Isso é ainda mais
imprescindível para aqueles que trabalham – por sinal, a maioria. “O aluno tem
a dificuldade de ter que estudar sozinho. Precisa criar seu próprio horário e
adequar ao seu ritmo de trabalho. O aluno é quem coordena suas atividades. Ele
precisa desenvolver várias competências, como autonomia e disciplina para
realizar seus estudos”, enfatiza a coordenadora.
Superação e disciplina para concluir a graduação
Muitas vezes, mais do que organização e disciplina, outro atributo é
ainda mais essencial: uma boa dose de capacidade de superação. Foi essa a
característica que fez com que o professor de química José Leão Martins Júnior
conseguisse concluir sua graduação.
Nascido em Nova Cruz, ele concluiu o nível médio em escola particular em
Natal graças a muito sacrifício dos seus pais. Ainda na capital, foi aprovado
no curso de Engenharia Química da UFRN. Entretanto, por dificuldades
financeiras da família, retornou para Nova Cruz e não tinha condições de
trabalhar no interior e ir à capital todos os dias para estudar. Resultado:
teve que abandonar o curso. Mesmo com a formação incompleta, recebeu o convite
para dar aulas de química em escolas públicas, mas a ausência de diploma o
obrigava a se sujeitar a ganhar menos que os demais docentes e sofrer
perseguição a ponto de ser demitido – época difícil, em que passou por sérias
dificuldades financeiras.
“Para sobreviver, tinha que ter três contratos de professor: pela manhã,
à tarde e à noite. Mas o Estado começou a exigir professores formados. Aí veio
o desespero: como eu vou para Natal fazer a faculdade? Acabei desempregado. Só
não passei fome porque meus pais me ajudavam”, recorda.
A vida de José Leão deu uma guinada positiva após ser aprovado no
vestibular para o curso à distância de licenciatura em Química. Com o apoio dos
professores, ele conseguiu concluir o curso. “Se não fosse o apoio dos
professores, eu teria desistido. Todos deixam transparecer que são de ótimo
nível e altamente comprometidos. Eu chegava a mandar e-mail para minha
coordenadora de madrugada, e ela me respondia na mesma hora”, detalha o professor.
Os frutos do seu esforço vieram logo em seguida: ele foi aprovado no
concurso da Secretaria Estadual de Educação e reassumiu seu cargo como docente
de química na mesma escola onde dava aulas – desta vez, como professor efetivo.
Com planos de fazer mestrado e se especializar ainda mais na sua área,
José Leão se diz tranquilo e aliviado com a sua atual fase profissional. “Hoje,
tenho serenidade de ter a segurança de que não serei demitido a qualquer
momento. Minha vida tem outro rumo. O mercado está muito fechado, só nível
médio não basta”.
Fonte: Portal JH/O Jornal de Hoje